

Esse é o sentimento que novamente vem à tona nessa semana. Um policial militar, jovem e cheio de vida, o Aspirante à Oficial Renato MONTALVÃO Simões, de 34 anos, lotado na 37ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) em Goiânia, que, durante o atendimento de uma ocorrência, foi atingido no peito por uma faca lançada pelo seu algoz, o qual tentava salvar de um ataque de loucura pronto para um suicídio ou algo pior.
A morte do Aspirante MONTALVÃO não pode ser considerada uma simples fatalidade. É um duro golpe ao Estado enquanto representação máxima da coletividade. O Estado é a vítima mediata desse ataque. E se todos nós somos o Estado – Executivo, Legislativo, Judiciário, imprensa, polícias, segmentos organizados públicos e privados – todos fomos atingidos.
A inquietude geral neste momento deveria ser a tônica de todas as manifestações em quaisquer instâncias e veículos jornalísticos ou midiáticos. Sob pena de decretarmos o falecimento não de um jovem oficial, mas de uma coletividade anestesiada diante do esfacelamento social.
Em culturas mais sensíveis ao apelo civilizatório, a morte de um policial é encarada como uma contumélia irremissível. Não porque se vai um “policial”, mas por caracterizar o pior tipo e afronta que a humanidade pode ter, ou seja, a violação ao seu modelo de pacto social, sem o qual a barbárie toma conta.
Olhe ao teu redor! Já vês sinais de barbárie? Esse é o sinal de que algo não está como deveria. Estudo do Sindicato dos Policiais Civis do Rio de Janeiro (Sinpol) aponta que, em 2014, 114 policiais civis e militares foram mortos no estado, a maioria durante a folga. A taxa de homicídios no Rio de Janeiro é de 198 assassinatos por 100 mil policiais. Essa realidade do Rio de Janeiro também é encontrada em todos os Estados do Brasil.
Conforme os dados da CPI na Câmara dos Deputados, se compararmos os dados do Brasil com os da Alemanha, em 2012, foram mortos apenas três policiais no país europeu. Uma taxa de 1,2 assassinato por 100 mil policiais. Nos Estados Unidos, entre 2007 e 2013, a taxa de homicídios desse tipo foi de 4,7 por 100 mil. Por que no Brasil é diferente?
Os dados oficiais indicam que, nos últimos cinco anos, mais de três mil policiais foram mortos no país, em trabalho ou em horário de folga. Embora, em junho do ano passado, tenha sido aprovada e sancionada a Lei que transformou em crime hediondo o assassinato ou lesão corporal gravíssima contra policiais, bombeiros militares e integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública com uma pena que pode chegar a 30 anos de prisão, este instrumento parece ainda não frear o avanço fatal contra o Estado, representado na sua face policial.
Perseveremos no processo civilizatório que, segundo o cientista social canadense Steve Arthur Pinker, desperta o anjo bom da nossa natureza, permitindo avançar na senda do bem e que a vida do ASPIRANTE MONTALVÃO seja uma ode aos que continuam acreditando nessa profissão sacerdotal que nos coloca frente à frente com a morte todos os dias, honrando nosso juramento de defender a sociedade (ESTADO) mesmo com o risco da própria vida, e muitas vezes ela nos ceifando.
A Associação dos Oficiais levanta sua voz para honrar esse nobre oficial que se despede da vida tragicamente. Sua vida foi vitoriosa MONTALVÃO. Sua memória estará conosco para todo o sempre!