Conversa com especialista: Janeiro Branco

CONVERSA COM ESPECIALISTA

Entrevistadas: Maj BM QOS Vanessa Rodrigues Lopes e Cap PM QOS Patrícia Calado Pena

Tema:  Janeiro branco

“Janeiro branco” é o nome da campanha governamental instituída com o objetivo de conscientizar sobre a saúde mental e emocional. Neste ano de 2024, o tema que foi lançado é “Saúde mental enquanto há tempo. O que fazer agora?” e a intenção é reduzir o estigma em torno de adoecimentos que podem afetar qualquer pessoa, como, por exemplo, a depressão, a ansiedade e outros transtornos mentais.

Para falar um pouco sobre o tema e como a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar estão apoiando os militares, a AOPMBM entrevistou a Maj BM Vanessa Rodrigues Lopes, que está lotada na Assessoria de Assistência à Saúde do Corpo de Bombeiros e a Cap PM Patrícia Calado Pena, que atua no NAIS da APM.

O conteúdo produzido foi divulgado em nossas redes sociais, em vídeos curtos, e a íntegra da entrevista pode ser conhecido a seguir.

  1. AOPMBM: Qual a importância de elegermos um mês especialmente para falarmos da prevenção em saúde mental?

Cap Patrícia –  A campanha do “Janeiro Branco” foi criada em 2014 com o objetivo de chamar a atenção para os cuidados com a saúde mental. E como janeiro é um mês em que culturalmente as pessoas fazem metas e avaliam o ano anterior, é um momento de reflexão importante sobre como está a saúde mental e quais ações precisam ser implementadas para fortalecê-la individual e coletivamente.

Maj Vanessa – Eleger um mês dedicado à prevenção em saúde mental possui uma relevância social e institucional bastante significativa, principalmente por contemplar diversos aspectos relativos a essa área das nossas vidas. De um modo geral, significa uma importante estratégia para catalisar esforços coletivos, promovendo mudanças positivas na conscientização, atitudes públicas e na oferta de recursos voltados para a promoção e prevenção em saúde mental.

  • AOPMBM: É comum as pessoas associarem saúde mental com doença mental e loucura?

Maj Vanessa – A associação entre saúde mental e doença mental, muitas vezes vinculada à ideia de “loucura”, é uma tendência com raízes históricas e sociais. É comum que as pessoas interpretem a saúde mental apenas através da lente de condições patológicas, contribuindo para estigmas e preconceitos.
No entanto, é fundamental destacar que saúde mental engloba um espectro amplo de estados psicológicos, indo além de doenças mentais específicas. Envolve bem-estar emocional, equilíbrio, resiliência e qualidade de vida. Reduzir a saúde mental à patologia cria estigmas prejudiciais e impede uma compreensão mais holística e inclusiva.

  • AOPMBM: Como a prevenção em saúde mental pode favorecer a qualidade de vida das pessoas?

Cap Patrícia – A qualidade de vida depende da harmonia entre saúde física, mental, espiritual e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Já a saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade, ou seja, são indissociáveis. Se um indivíduo tem a saúde mental comprometida, fatalmente a qualidade de vida também estará comprometida e vice versa.

Maj Vanessa – A prevenção em saúde mental desempenha um papel fundamental na promoção da qualidade de vida, agindo em diferentes níveis para mitigar fatores de risco e fortalecer recursos protetores. Em termos técnicos, algumas maneiras pelas quais a prevenção em saúde mental favorece a qualidade de vida incluem:
A detecção precoce de sinais de problemas de saúde mental; programas educacionais para aumentar a conscientização sobre fatores de risco, sintomas precoces e estratégias de enfrentamento; normalização de conversas sobre saúde mental, incentivando a busca de ajuda sem receios de discriminação; promoção de ambientes sociais e de trabalho que favoreçam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, apoio social e inclusão; desenvolvimento de Habilidades de enfrentamento, promovendo resiliência diante do estresse e adversidades; intervenções Comunitárias que facilitem a criação de redes de apoio; desenvolvimento e implementação de políticas públicas que priorizem a saúde mental; reconhecimento da interconexão entre saúde física e mental, promovendo uma abordagem holística para melhorar a qualidade de vida global.

  • AOPMBM: Existem comportamentos que nos dão sinais de que uma pessoa está precisando de cuidados com sua saúde mental. A quais sinais os familiares e amigos próximos devem estar atentos para que possam ajudar e direcionar na busca por ajuda profissional? 

Cap Patrícia – A mudança no comportamento do indivíduo é o mais importante sinalizador. Todos nós temos um funcionamento próprio que nos leva a agir diante de situações de um modo particular. Quando a nossa saúde mental está comprometida, este funcionamento fica alterado. Algumas pessoas podem tornarem-se mais irritadas, menos sociáveis, mais tristes ou até mesmo deprimidas, com ingestão aumentada de álcool e até mesmo alimentos.

Maj Vanessa – Além de alterações significativas no padrão de comportamento é importante estarmos atentos a comentários diretos ou indiretos sobre desejo de morrer, assim como expressões de desespero; uma notável falta de interesse ou cuidado em relação à aparência pessoal e higiene;  aumento de comportamentos agressivos, impulsividade ou envolvimento em atividades autodestrutivas; declínio no desempenho acadêmico ou profissional, faltas frequentes ao trabalho ou dificuldades interpessoais; reações extremas a situações de estresse que vão além do que seria considerado normal.

  • AOPMBM: Como a Polícia Militar tem assistido seus integrantes neste aspecto de sua saúde?

Cap Patrícia – Várias ações são desenvolvidas nos eixos assistencial, educacional, administrativo e social. Na parte assistencial temos a oferta desburocratizada de assistência à saúde através das UAPS, HPM, CLIPS e Rede conveniada e contamos ainda como PSOPM que avalia todos os militares nas especialidades médica, psicológica e odontológica.
Na parte educacional temos as lives, palestras, pílulas, matéria do TPB.
Já administrativamente temos as normativas que em algum de seus eixos busca salvaguardar a saúde mental do militar e para exemplificar podemos citar: Resolução do Pró-Apoio, Instrução 02 de corregedoria (comissões de letalidade), a Instrução 3.03.15 que trata da violência doméstica e a instrução do Gepar.
Na parte Social temos a atuação dos profissionais do Centro de Proteção Social que atua em situação de vulnerabilidade do Policial Militar, prestando um importante serviço ao nosso público.

  • AOPMBM: Quais os locais de referência em tratamento e prevenção da saúde mental no CBM?

Maj Vanessa – Em Minas Gerais, a assistência à saúde aos militares é prestada através do convênio tripartite entre a PMMG, o CBMMG e o Instituto de Previdência dos Servidores Militares (IPSM), o que nos possibilita termos os cuidados de saúde de uma forma geral e, mais especificamente de saúde mental, disponível tanto nas estruturas próprias – as UAPS (Unidades de Atendimento Primário em Saúde), espalhadas por todo o Estado, tanto através de prestadores de serviço em saúde (clínica e hospitais) contratados pelo IPSM. Em 2023, tivemos um avanço importantíssimo na expansão da nossa capacidade de atendimento ao contratarmos, através do IPSM, o serviço de Telessaúde, o qual possui vinte e três especialidades médicas, incluindo a psiquiatria, disponíveis e facilmente acessíveis tanto para os militares, quanto para dependentes e pensionistas. Outra conquista valiosa para a assistência em saúde mental, foi o início da residência em psiquiatria no Hospital Militar, o que ampliou a capacidade de atendimento da Clínica de Psiquiatria (CLIPSI) e permitiu a criação de leitos para internação em parceria com o Hospital Psiquiátrico André Luiz. Portanto, é extremante importante que os militares estejam cientes dos recursos disponíveis em suas unidades específicas, procurando apoio quando necessário.

  • AOPMBM: Uma mensagem que podemos deixar para os militares da PM e do CBM, que possa sensibilizar em relação ao autocuidado com a saúde mental.

Cap Patrícia – O maior patrimônio que podemos ter e compartilhar com quem amamos é nossa saúde e esta passa por uma construção diária e por cuidados que precisamos manter.
Quanto tempo, nas nossas 24 horas do dia, temos destinado a nossa saúde? E deste tempo, quanto tem sido direcionado à saúde mental?
Estas reflexões são muito importantes, pois basta uma busca rápida na web para localizarmos várias divulgações, postagens e propagadas que nos relembram o quanto a saúde mental é uma lente através da qual vemos o mundo.
Se estamos em momento de desequilíbrio enxergamos o mundo completamente diferente de outros momentos em que estamos bem, assim como construímos soluções e lidamos com nossas dificuldades de forma completamente diferente em acordo a nossa saúde mental. Muitas vezes os problemas ganham proporções diferentes pelos atravessamentos de nossa saúde mental.

Maj Vanessa – A coragem que demonstram diariamente merece ser estendida ao cuidado consigo mesmos. Priorizem a saúde mental como parte essencial de sua missão. Vocês são pilares fundamentais da segurança, e investir no próprio bem-estar não é apenas permitido, mas necessário. Sejam tão dedicados a si mesmos quanto são ao serviço prestado à comunidade. A força começa de dentro para fora, e a bravura inclui o autocuidado. Juntos, construímos uma corporação mais forte e resiliente!

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