MANCHETE JORNAL O TEMPO: ESQUEMA SACOU R$ 14 MILHÕES EM RETIRADAS NÃO IDENTIFICADAS

Quase 70% dos R$ 20 milhões repassados pela Câmara Municipal de Belo Horizonte às empresas Feeling Comunicação (MC.COM) e Santo de Casa, envolvidas no esquema de corrupção denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), foram sacados das contas através de retiradas bancárias sem identificação – ou seja, não se sabe qual foi a destinação final desses recursos.

Segundo a denúncia responsável por embasar a operação Sordidum Publicae, obtida pela reportagem de O TEMPO, foi sacada, das contas da Feeling Comunicação, a quantia de R$ 13,4 milhões mais R$ 517 mil da conta da Santo de Casa – ambas retiradas sem identificação. Ao todo, só para a Feeling, a Câmara havia repassado cerca de R$ 18 milhões. Além dos saques anônimos, a empresa transferiu R$ 3 milhões para a conta de seu proprietário, o empresário Marcus Vinicius Ribeiro, e o restante para outros investigados.

Já para as contas bancárias da empresa Santo de Casa, a Câmara repassou R$ 2 milhões como pagamento pelo “suposto serviço de produção de spots, VT’s e fotografias”. Na avaliação dos investigadores do Ministério Público e da Polícia Civil, a Santo de Casa apresentava serviços fictícios à Feeling Comunicação para superfaturar notas fiscais frias.

Ainda segundo a denúncia, a “fusão financeira” entre as duas empresas fica comprovada com a análise das movimentações na conta bancária da Santo de Casa. A empresa transferiu a quantia de R$ 777 mil para Marcus Vinicius Ribeiro, além de outras quantias para investigados ligados à Feeling Comunicação.

Outro detalhe apontado na denúncia é a retirada de R$ 1,4 milhão da conta bancária de Marcus Vinicius Ribeiro para destinos não identificados, “dentre eles pagamentos de cheques e saques sem identificação na boca do caixa”.

A investigação ainda aponta Carlos Theodoro de Oliveira, funcionário da Feeling Comunicação, como o responsável por fazer a distribuição das quantias aos membros do esquema no mesmo dia em que o dinheiro da Câmara era depositado nas contas das empresas.

“Carlos Theodoro era o encarregado, na organização criminosa, de realizar os saques e o transporte, na mesma data do crédito recebido do órgão público ou no dia útil imediatamente subsequente aos pagamentos efetuados pela Câmara, com o objetivo de distribuí-los entre os demais integrantes da organização criminosa”, diz trecho da denúncia.

Segundo o documento, Theodoro realizava os saques em dinheiro vivo com a intenção de “ocultar a origem dos pagamentos”. “O contrato de publicidade era um dos esquemas de geração de dinheiro em espécie destinado ao pagamento de propina aos integrantes da organização criminosa”, expõe o texto do MPMG.

Em depoimento aos investigadores, Carlos Theodoro alegou que o dinheiro sacado direto do caixa teria como finalidade a realização de “pagamentos diversos”. Para os promotores, no entanto, a análise das contas desmonta a versão.

Indícios

Laranjas. Na avaliação dos promotores e investigadores, o fato de os recursos recebidos pela Santo de Casa não serem transferidos para as contas de seus próprios proprietários, e sim para Marcus Vinicius, dono da Feeling, comprova que “os sócios formais não passavam de laranjas, pois não detinham o controle sobre as atividades da empresa”.

Fachada. Segundo a investigação, a Santo de Casa não possuía nenhum funcionário registrado, o que põe sob suspeita o recebimento de quantias tão altas para a suposta produção de materiais de comunicação. “A empresa simulava o fornecimento de serviços mediante a emissão de notas fiscais frias de bens e serviços não efetivamente por ela fornecidos”, diz a denúncia.

Fonte: Jornal O Tempo

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