ARTIGO JORNALISTA ACÍLIO LARA RESENDE – DE REPENTE, QUANDO MENOS SE ESPERA, CHEGA O NATAL

Gostaria de preencher estas linhas com as lembranças boas dos muitos natais por que já passei. Refiro-me aos da minha infância, que ainda não eram objeto de exploração comercial. Em todos eles, apesar da alegria, nunca deixei de curtir, meio escondida, doída tristeza. Um traço mais materno do que paterno. Lembro-me de meus pais acompanhados dos filhos, netos, genros e noras. Coisa estranha, ou até mesmo um escândalo, para os dias de hoje, o tamanho da minha família! A festa podia ser simples, como era, mas em nossa casa estávamos todos, após a Missa do Galo, na Igreja da Boa Viagem. O mais concorrido mesmo era, com certeza, o frugal almoço do dia 25.

Mas não posso deixar de me referir ao que aconteceu na minha velha UFMG (sou seu ex-aluno e, naquele tempo, ia para a Faculdade, na Praça Afonso Arinos, a pé…). Reitor e ex-reitores foram conduzidos, coercitivamente, por suposto desvio criminoso de recursos. É-me impossível dizer se houve ou não esse desvio. Só não consigo compreender a condução coercitiva sem que, antes, tenham sido esses professores notificados para prestarem esclarecimentos. Ainda que amanhã haja prova de que de fato ocorreu algum grave desvio, ainda assim, a prática me lembra dos anos da ditadura militar. Para que serve toda essa truculência? Somos mesmo “uma sociedade violenta”? Ou nunca precisamos do regime de “exceção” para que a borduna, de vez em quando, aja sobre nós? Até na era JK, a censura mostrou sua cara. São muito tristes os casos que Sandra Starling contou em seu artigo.

Dito isto, volto à frase do título, que é da colunista Cora Rónai: “De repente, quando menos se espera, chega o Natal”. Cora afirma que ela sempre foi sua manchete favorita, “publicada, segundo a lenda, num ponto qualquer do século passado. Nunca a vi impressa, mas, todos os anos, quando menos espero, volto a rir dela, e a me dar conta de como é verdadeira”. Também eu nunca a vi no alto de página de qualquer jornal, mas ela sempre me ocorreu neste mês de dezembro.

Nasci em São João Del Rei, mas vivo aqui desde os quatro anos. Aqui nasceram seis filhos e nove netos. Gostaria de relatar algo de realmente bom sobre os inúmeros natais aqui vividos. Seria uma excelente oportunidade para homenagear os 120 anos da nossa Beagá, completados no último dia 12. Infelizmente, leitor, o deste ano me levou a recordar de tristes realidades, extremamente duras. Você sabia, por exemplo, que, segundo o “Guia Cultural de Vilas e Favelas”, Belo Horizonte, em 2004, já possuía 226 favelas, vilas e conjuntos habitacionais? Você sabia que, em 2015, ela foi considerada a 8ª capital mais violenta, no Brasil, para adolescentes de 12 a 18 anos? Sabia que, nesse mesmo ano, apenas 17,38% da sua população recebiam, mensalmente, valor superior a cinco salários mínimos? E que 27,8% recebiam rendimento mensal “per capita” até ½ salário mínimo? E que de acordo com o relatório de 2010/2011, da agência Habitat, da ONU (o próximo será feito no ano de 2020), Belo Horizonte, ao lado de Goiânia, Fortaleza e Brasília, já estava entre as cidades mais desiguais (a 13ª) do mundo? Ou seja: o fosso, entre ricos e pobres, é muito grande entre nós. Só se poupa o Brasil quando essa desigualdade é comparada com as cidades de Buffalo City, Johannesburg e Ekurhuleni, na África do Sul.

De lá para este 2017, se algo mudou, deve ter sido para pior. É por isso que desejo a todos, com mais razão, um feliz Natal!

Que a esperança se renove em 2018!

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