Suicídio de adolescentes: o olhar dos pais pode ser a melhor prevenção

Eliene Lima de Souza, Ten-Cel PM

Diretora do Departamento da Mulher Militar

Setembro amarelo é um mês para nos conscientizar para a prevenção ao suicídio, e um estudo da UNICEF sobre esse tema, em países Latino Americanos e no Caribe*, nos alerta para o fato de que a saúde mental de nossas crianças e jovens também deve ser alvo de nossa atenção, nos retirando daquela fantasia de que a infância é sempre a fase mais feliz de nossa vida. Para alguns, esta é uma realidade que está muito distante.

O suicídio, nos 33 países participantes desta pesquisa, é a terceira principal causa de morte entre crianças e jovens de 10 a 19 anos, sendo que o Brasil se classifica em 4º colocado no ranking de prevalência de doença mental, nesta faixa etária. Foram levados em consideração o número de indivíduos diagnosticados com ansiedade, depressão, transtorno bipolar, autismo, esquizofrenia, transtornos alimentares, TDAH, desordens da personalidade, e concluiu-se que já chegam a aproximadamente 16 milhões o número de jovens que sofrem de algum transtorno mental.

Mais importante que os números, é a prevenção!

Os dados considerados foram de 2019, portanto, antes da pandemia da Covid-19, contudo, foi o cenário com o qual as famílias e escolas vem convivendo durante o isolamento social e após o retorno às aulas presenciais que nos chamou a atenção para a gravidade deste quadro. No entanto, mais que apontar números, devemos nos preocupar com a prevenção ao suicídio, e uma das formas de se fazer isso é conversando sobre o assunto, alertando a sociedade sobre os principais sinais de alerta e, principalmente, orientando os pais sobre a importância de acompanhar de perto o comportamento de seus filhos.

Sinais de alerta que devem chamar a atenção dos pais

Dificilmente um ato de auto extermínio surge de repente. Normalmente, quem chega a consumar um suicídio, já fez outras tentativas e antes delas alguma mudança nos hábitos aconteceu. Portanto, se você perceber em seu filho um aumento da irritabilidade, maior necessidade de ficar isolado, desleixo com a própria higiene, choro aparentemente desmotivado, esses podem ser alguns aspectos que merecem atenção para que você se aproxime e busque entender o que está se passando.

É bem verdade que a pré-adolescência e a adolescência são momentos da vida onde as transformações do corpo, as alterações hormonais e a mudança dos ambientes sociais frequentados podem gerar tensões que precisarão ser superadas e que ajudarão na consolidação da personalidade. No entanto, cada pessoa reage de uma forma muito peculiar aos desafios que a vida propõe e, por essa razão, os pais ou cuidadores, precisam estar por perto para perceber, acolher, orientar e, se necessário, encaminhar para ajuda profissional.

Muitas vezes o que o jovem precisa é apenas desabafar, ou seja, colocar pra fora tudo aquilo que vem lhe sufocando e ele não está conseguindo resolver sozinho. Nestes casos, se há uma relação de confiança e transparência nas relações familiares, ele pode se sentir à vontade para se abrir com os próprios adultos com quem convive. Porém, há situações em que a indicação de um profissional de saúde mental pode ser recomendada, pois mesmo quando há confiança nos membros da família, alguns jovens preferem se abrir com alguém de fora. O profissional também será importante para detectar ou descartar a existência de algum aspecto do funcionamento psíquico deste indivíduo que mereça maior cuidado.

Vai que eu estou te vendo…

Fato é que o relacionamento com os filhos adolescentes pode ser conflituoso e bastante desafiador. É um momento da vida deles que nós que somos adultos sabemos que eles podem estar bem próximos de situações de risco, tanto à sua saúde quanto à sua integridade física. Porém, é exatamente nesta fase que eles menos querem os pais por perto.

Às vezes, o que é possível fazer é ficar a certa distância, observando o caminhar daquele indivíduo quase adulto, mas ainda criança, torcendo para que as escolhas dele sejam saudáveis, mas em estado de alerta caso seja preciso intervir para acolher e ajudar. Quem se dispõe a cuidar e educar outro ser humano, tem que criar o hábito de observá-lo. Precisa, de fato, fazer parte da vida desta pessoa e saber quando algo diferente está se passando com ele.  Sei que é difícil o limite entre participar e ser invasivo, mas cada um deve achar o seu jeito de mostrar aos filhos que está por perto e que está ali para ele/ela.

E você, já olhou nos olhos do seu filho hoje? O que foi que você viu neles?

*”On My Mind – promotin, protecting and carin for children’s mental health” www.unicef.org/sowc

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